domingo, 6 de julho de 2008

Sobre Ela e ela,

Escritório. No escritório, ela era séria e serena. Demonstrava sempre uma segurança invejável, capaz de esconder qualquer vestígio de fragilidade existente dentro de si. Salto alto ou bico fino. Saia até o joelho. Os óculos, usava quando conveniente. E gostava de ser chamada por seu nome e sobrenome, transmitia maturidade e a impressão de uma idade, que ela ainda não tinha.

Faculdade. Na faculdade, outra atmosfera. Rodeada de amigos – não muitos, mas verdadeiros – podia falar bobagens, soltar sorrisos e abraçar expectativas, medos e desejos. Calça e camiseta. All star e sandália rasteira. Apesar dos estresses e frustrações, acompanhados de trânsitos intermináveis, provas insuportáveis, ônibus lotados e contínua correria, era feliz e apaixonada com cada compromisso que compunha sua rotina. Não era sacrifício nenhum tudo isso. Era prazeroso, sobretudo, quando ao lado de companhias tão especiais. Tão preguiçosas, por muitas vezes, e tão cheias de energia, como ela. Ah, e ali, a chamem pelo apelido, por favor.

Casa. Sempre descalça, quando muito, uma meia nos pés. Short, calça de capoeira, camiseta e moletom. Um ou outro. Ou todos ao mesmo tempo: em casa, todo mundo é da família, uma intimidade só. Ali podia ser ela mesma. Extravasar sua raiva, chorar até de madrugada sem saber o motivo, realizar suas comemorações – de maneira ridícula, aos olhos de estranhos. Podia ainda, ser infantil e fazer pirraça. E apesar de saber de todas essas possibilidades, gostava mesmo de conversar com seus pais. Estar atenta à tudo que lhe servia como aprendizado. Procurava aproveitar os anos de sua vida que passaria naquele lugar, junto daquelas pessoas. Seu nome ali? Filha bastava.

Forró. Apertado, cheio. Como faz calor nesse lugar! Mas, de toda a sua rotina – sim, o forró estava incluído em sua rotina – era onde se sentia mais dona de si. Carregava consigo todas as suas inseguranças, os seus defeitos e problemas. Mas tudo isso tornava-se pequeno diante da alegria que sentia ao encontrar os amigos e dançar uma, duas, três, cinqüenta músicas. Sentia-se dona de si, pois se reconhecia humana em meio a tanta diversidade. Ali não estava um grupo de pessoas, chamado por outros como forrozeiros. Cada um ali trazia uma história, um estilo e uma bagagem de vida, e eram capazes de conservar sua individualidade justamente quando uniam-se a todos, sem qualquer restrição. Ricos e pobres. Brancos e negros. Homens e mulheres. Todos amigos e iguais. Seu nome ali eram vários: além do seu próprio, apelidos não faltavam. E havia quem nem o soubesse. Short, calça, camiseta, sapatilha ou sandália rasteira. A roupa ali não importava, desde que fosse confortável para dançar. Para dançar a noite inteira.

Vida. Múltiplas personalidades, múltiplas versões – se é que assim podiam-se chamar as várias posturas que assumia em seu cotidiano. Sabia que não importava o lugar, a roupa, quão confortável ou animada estava para mostrar quem era, essencialmente. Bastava a observar, com um pouco mais de critério e sentimento, para perceber sua essência, a mesma, em todas as situações: ela era e vivia, sempre, toda a sua própria diversidade.

3 comentários:

Anônimo disse...

Filha querida, estou orgulhosa de seus textos. Você está escrevendo cada vez melhor e como "gente grande". Parece até Marta Medeiros ou melhor, Luiza Guimarães.
Que orgulho!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Beijos. Mami

Elga Arantes disse...

Sinto alguma coisa muito parecida, só que em relação ao samb,rs.

Identificação total com seu blog, mesmo descobrindo-o ao acaso.

Muito bom.

Um beijo.

Gabriel Fontes disse...

Luiza seu blog tá ótimo!
gostei de mais!

Seus textos parecem até de verdadeiros escritores que têm milhoes de historias pra contar e relembrar!

Mas vou cobrar o meu artigo emo ein!

hahaha!

Pode botar ai!

Qualquer artigo novo ai, (quem sabe o meu né! haha) você me avisa tá?

bjo!