quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Para o Gabri,

Incrível como o tempo lhe escapou pelas mãos. Já havia se passado um ano e a data só lhe ocorrera um mês após. Assustada com a repentina recordação, tentou desesperadamente lembrar o que estaria fazendo naquele dia, algum pensamento, algum desejo, um fechar de olhos acompanhado por um suspiro. Algo que sugerisse uma lembrança. Mas era em vão.

Ela já não gostava dele como antes. Já não pensava nele todos os dias. E sentia-se feliz ao vê-lo com a nova namorada. Mas ainda era estranho ver seu nome na lista “online” do MSN e não perguntar sobre o seu dia. Ver suas fotos novas no Orkut e não reconhecer rostos amigos e momentos compartilhados.
Diante de toda a sua imaturidade, ela não compreendia porque não podiam ser amigos. Ela havia errado, ele também. Ela havia pedido desculpas, ele também. Eles já haviam se gostado. E era fácil perceber que, “das coisas dessa vida, nunca haviam sentido”. E tudo se passou. E agora, não podia ser em vão.

Seus primeiros 19 anos de vida seriam, quando adulta, parte de um tempo distante. Sentia medo de não se lembrar, com os detalhes que desejava, daqueles dias que não voltariam mais. Do bolo de maçã com canela, da poesia recém escrita ou daquela música desafinada. Também das meias pretas da mãe, motivo de tanto riso. Mas era impossível colocar em questão a ternura que sentiria, para sempre, por aquelas pessoas que por sete meses conquistaram seu encanto, sua admiração e, sobretudo, seu amor.

Não foi preciso muito tempo para ela gostar de passar algumas horas dos seus sábados na Blunt. Nem muito sacrifício para aprender nomes complicados de manobras complicadíssimas, realizadas em cima daquele skate. E ela agora compreendia como havia, durante esse tempo, colhido argumentos sólidos a respeito do melhor shampoo a ser usado ou da técnica “ultra, mega, hiper, ultra poderosa”, para deixar os cabelos mais poderosíssimos.

Ela mergulhou em um universo completamente novo. E sentia-se veterana ali. Fora acolhida com amor de mãe e irmão. E não havia espaço para se colocar em questão o grau de familiaridade daquelas pessoas, tamanho o carinho que demonstravam.

Agora, oito meses após ter deixado esse mundo, e segura de que fizera o certo, pegava-se, por vezes, imaginando os dois juntos: mãe e filho mais novo. O que estariam fazendo, as provações vividas e mais uma vez superadas, tudo isso já não estaria mais ao seu alcance. Mas, alegrava-se ao volver-se para aquilo que de melhor havia restado de seu primeiro namoro: não era preciso olhar para trás. Ela já sabia que termos como “ex-segunda mãe” e “ex-irmão postiço” não existiam.

Um comentário:

Elga Arantes disse...

Que bom que voltou!

Seus avós são fofos, mas já estava chateada de dar de cara com eles todo dia na esperança de um novo post.

Enferrujada? Imagina se não estivesse. Já começo com força total.