segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Flor de Lis



Joana sentia-se sem ar. Queria procurar o lugar mais arejado do forró, um ventilador ligado ou uma janela que permitisse qualquer resquício de brisa, capaz de varrer dali tudo aquilo que estava sentindo. Mas não era possível. Ela não conseguia desviar, por um segundo que fosse, os olhos daquela barriga.

À sua frente, uma mulher desconhecida, ainda com cara de menina, não fosse aquela barriga, anunciando 4 meses. Joana nunca a tinha visto, mas sabia o seu nome, onde morava e talvez parte do capítulo mais importante de sua vida. E naquele momento, em que encontravam-se tão próximas, ela pôde compreender - como mulher que Joana também era - o significado de possuir uma florzinha em desenvolvimento dentro do ventre.

Seu coração palpitava e o ar parecia tornar-se mais denso e escasso. Era uma menina. Ela já não ouvia as músicas que tocavam nem as pessoas a sua volta. Como se chamaria a criança? Joana não ouvia nem aqueles que a chamavam para dançar. Será que irá se parecer com quem? Com o pai ou com a mãe? De pé, diante do grupo de amigos daquela mulher que lhe prendera tanta atenção e fora motivo de tantos sentimentos desencontrados e inéditos desde julho, quando soubera da notícia, já não sabia onde estavam os seus próprios amigos. Tomara que a menininha não nasça com o tamanho da cabeça do pai. Mas que herde seu sorriso, seu olhar de entendido quando levanta a sobrancelha esquerda e, sobretudo, seu desejo de desenvolvimento humano e espiritual.

“Que barriga linda, levanta a blusa! Quantos meses já?”. Foi o suficiente para Joana voltar à realidade do forró. Ela já sabia a resposta, mas inclinou-se para escutar a voz que iria responder “4 meses!”, essa mesma voz que iria orientar, dar broncas, educar e dizer “filha” incontáveis vezes.

Encontrou os seus amigos e ficou tranqüila em perceber que o ar, aos poucos, voltava a lhe ser suficiente. Dançou, riu, conversou, conheceu gente. Ainda estava abalada com a lembrança dos momentos anteriores, em que se viu absorta em tanta confusão. Mas, aquilo tudo já não lhe pertencia. Joana podia ser livre. Era jovem e muito ainda estava por vir. “Isso deve ser a vida”, pensava ela, percebendo-se um pouco mais madura depois da recente experiência. Na porta do forró, já na hora de ir embora, Joana virou-se para o salão e lançou, docemente, um último olhar àquela mulher. E ela sabia que seria o último.

2 comentários:

Elga Arantes disse...

vixxiii...
Tem texto que é fogo! A gente fica querendo descobrir se é real ou não, né? Pior, saber qual a realidade dele, rs.

Mas me imaginei nele. Nem te conto...

Anônimo disse...

muito boa história...
me identifiquei com uma parte dela..ahahha..no momentoeh q o pai levanta a sombrancelha esquerda..eh uma habilidade q eu tenhu..as vezes faço...hahah
realmente qd li a história..me fez passar diversas imagens praticamente um filme de cada momento...
continue assim Lu