quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Predo pelo correio,

Dessa vez ela teria que sair da frente do computador para escrever. Fazia tempo que isso não acontecia, mas era exigência básica da situação: Luiza, você vai ter que usar caneta e papel. Afinal, cartas enviadas pelo correio se escrevem à mão.

As palavras já não fluíam com a mesma facilidade observada na feitura dos primeiros textos, quando pareciam saltar de suas idéias, preenchendo a tela branca do Word. Ela atribuía esse inconveniente bloqueio à nova versão que assumia, pela quarta vez, desde que ingressara na vida universitária. “Uma vida por semestre”, pensava ela no início do seu quarto período, acostumando-se a perceber vários ela, eu e Luiza dentro de um mesmo corpo – que, por pouco não atingiria 1,60m.

Olhando para si, ela não conseguia entender como que, no interior daquele ilimitado espaço (1,60m apenas!), encontrava-se tamanha multiplicidade. E foi preciso olhar para ele, que estivera sempre ao seu alcance (com seu semelhante 1,60m), apesar de tão distante, para compreender o que lhe parecia incoerente. Ele, 19 anos, de sobrenome Oliveira Azevedo.

Hoje, ela, com também 19 anos, já não se lembrava mais a primeira vez em que escutou a professora dizer Pedro Henrique durante a chamada. Como o tempo havia passado rápido! De pega-pega no pátio do colégio, às festinhas com direito à presença da “querida professora”, não se esquecendo da descoberta das primeiras letras, sílabas e palavras, eles chegavam agora à vida adulta. E isso seria, durante aqueles dias de correria e estresse, resumido a depoimentos no Orkut, conversa jogada fora no MSN e, quando muito, no telefone para matar as saudades. Não fosse aquela segunda-feira.

Receber notícias de seu amigo pelo correio lhe fez perceber quão prepotente é a tecnologia. Toda essa modernidade, que se diz capaz de encurtar a distância, nunca lhe fez sentir tão próxima de alguém quanto aquela cartinha de duas páginas.

Ela já sabia de muito daquilo que estava escrito ali: rotina de estudos e estágios, carteira de motorista nas mãos, saudades e lembranças de um tempo que não volta e de amigos que já não fazem parte de nossa rotina. Mas, ler tudo aquilo, escrito pelas mãos de um dos seus mais antigos amigos, reavivou todo o carinho que sempre existira dentro de si e a permitiu ler além daquelas linhas: eles eram amigos de verdade. E eram amigos para sempre.

Tinha medo de sua resposta não ser à altura. De não conseguir retribuir tamanha simplicidade, sinceridade e amizade. Além disso, sua letra já não era das mais bonitas. Na faculdade, quando alguém lhe perguntava “o que que tá escrito aqui? É mandarim?”, ela gostava de lembrar - e contar, claro - do amigo que dizia ser a sua letra (o mandarim dela, dá pra acreditar?!) a mais linda da sala, com toda a pureza de uma criança aos 7 anos de idade.

Pronto. Sua resposta estava feita. Não como desejava ou escrita à mão. Mas carregada de saudades e alegrias. Torcia para que ela chegasse rápida ao endereço escrito no verso do envelope: a tempo dele lê-la antes de acessar o Blog. Afinal, sua ansiedade condizia com as facilidades tecnológicas - ela não estava habituada a cartas e correios.

Um comentário:

Elga Arantes disse...

Você escreve muito bem.
Seus textos são uma delícia de ler, e quando assustamos... 'Já, acabou?'.
Continue a escrever, sempre.
Venho sempre aqui, ansiosa.

Beijos.