quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Família Sentimento

Tristeza. Alguns dias acordava imponente, sagaz e atuante. Vestia-se da maneira mais elegante e não se esquecia do perfume, para deixar, por onde passava, um rastro de seu cheiro. Alimentava-se dos melhores sabores e, ao fim do dia, colhia os melhores frutos, quando ia de encontro ao Amadurecimento.

Amadurecimento. Senhor das horas, dos tempos e dono de uma sabedoria invejável. Sempre tão compreensivo e amigo, raramente deixava transparecer sinais de inquietude e insatisfação. Mas, quando encontrava-se inesperadamente com a Tristeza, assumia uma infantilidade que não lhe era peculiar e uma vontade de provar, para a Alegria – que bem a sua frente estava – toda a sua imaturidade, revertida em um choro de criança. Em um chorinho.

Alegria. Uma graça! Mas por ser, sempre, tão desejada, deixou que a soberba lhe invadisse o coração: apresentava-se só quando lhe era conveniente. Suas aparições costumavam ser grandiosas e repentinas. E, da maneira inesperada como chegava, partia, deixando lembranças e saudades. Nesses momentos de glória, diferente da Tristeza, Alegria fazia uso de um perfume discreto, capaz de ser percebido apenas pelos mais atentos e sensíveis à sua presença. Esses, não precisavam enxergá-la para senti-la.

Emoção. Era ela a mãe da Tristeza, do Amadurecimento e da Alegria. Seu maior esforço era dedicado às tentativas de transmitir aquilo que aprendera com seu marido, pai de seus filhos, o senhor Razão. Não era fácil perceber que seus três pequenos haviam dado ouvidos ao que dizia. Afinal de contas, Emoção era dona de um temperamento forte e, por vezes, se esquecia dos conselhos do senhor Razão. Mas, nos momentos em que marido e mulher – Emoção e Razão – se encontravam, às vezes, já tarde da noite, era como se transformassem em um. E, só então, era possível compreender quão unida era aquela família.

2 comentários:

Ela disse...

Minha filha querida, por mais que eu tente, não consigo ler seu texto com distanciamento.E, quando termino de ler fico tão orgulhosa!
Achei ótimo! Te amo!
Beijo grande,
Beth

Elga Arantes disse...

Oi Luiza, quanto tempo!
Temos andado sumidas, não? rsrssr
Que texto lindo!! Adorei. Acho também que as pessoas tem estado menos sensíveis às alegrias das pequenas coisas. Resta-nos fazer esse exercício, diariamente, e passar adiante, como um legado. O que acha?

Beijos.