domingo, 26 de julho de 2009

Petulante

Ah, a saudade. Quem era aquela menina para dizer de sentimentos tão amargos? Achar ser doce uma vida dura, repleta de intempéries, contradições e mau humor. Sentimentos reais. Quem era ela para dizer, sem nunca ter amado intensamente, sem nunca ter sofrido verdadeiramente, sem nunca ter partido para não mais voltar.
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Que ingenuidade a dela, pensar a saudade com bons olhos. Lembro-me quando ainda tinha em meu peito o frescor dos anos por vir – era uma juventude inteira pela frente. E quanta ingenuidade! Não pense que a idade me trouxe apenas amarguras e que tudo o que acredito ser, seja de fato, negro e obscuro e frustrante. Não, a experiência me fez entender a saudade. A saudade nua, sem as idealizações doces dos jovens e românticos.
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Porque é ela quem aparece quando estamos sozinhos. Quando, em um canto escuro do quarto, choramos por nossa própria condição. É ela quem zomba da impossibilidade de nos mantermos constantes, serenos e imutáveis. E é ela quem evidencia as mudanças às quais estamos, sempre – sempre, sempre – sujeitos.
Mas aquela menina não precisa saber. Ainda.
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É cedo, menina, para que você descubra serem irreais todas essas fantasias. Levanta, corre, emociona e a si mesmo. E abraça o mundo, assim como deseja.
E por fim, menina, não escute meus conselhos. E se possível, conserve essa saudade. Essa saudade que é só sua.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Despedida branca

Se eu estivesse ali todo o tempo, creio que contaria 57 vezes. 57 tentativas – todas frustradas. Eu torcia, orava, incentivava! Queria muito que ela conseguisse. Como queria desvendar todos aqueles sentimentos em letras, pontos e vírgulas! Como queria compreender tudo o que se passava naquele coração que, tão recentemente, abrira-se para uma nova realidade por vir.
Mas nada.
Nem uma letra.
Nem uma frase.
Parágrafo? Muito menos.
Resignada, ela olhou para a tela do computador – branca como nunca lhe havia parecido tanto. Dirigiu o mouse ao X no canto da página e agradeceu pelos textos já escritos. Fechou.