terça-feira, 18 de agosto de 2009

Não esquece jamais,

Ela tinha os pés descalços no asfalto quente. No céu não havia uma nuvem e o tempo parecia se abrir em um largo sorriso azul. Ela podia sentir a quentura dos raios do sol. Era como se essa quentura, gostosa, lhe fizesse cócegas e, aos poucos, lhe invadisse todo o corpo até atingir o espírito. Ela ria - e sorria. Era um sorriso satisfeito, completo, mineiro.

Bem à sua frente, estava - linda e com todo o vigor dos jovens - a Praça da Liberdade. Meninas e meninos. Eram risadas, algodão-doce e bicicleta. Eram as avenidas próximas, a Rua da Bahia e até o Xodó. Liberdade! Liberdade, crianças! "Libertas quae sera tamen".

Em um de seus lados, apenas pelo cheiro típico, cores e sons, podia-se reconhecer - simpático - o Mercado Central. Reduto de tradições belíssimas, que ela sentia através de seus próprios pés descalços. É assim que ela desejava: contato com a terra. Com a sua terra. Eram os cestos de palha, os berimbaus e atabaques. Eram os doces de leite e cidra, a geléia de mocotó e o queijo minas. Era o queijo minas! E todos os outros queijos! E agora, o que ela sentia em sua boca era o gosto mineiro daquela delícia.

Girando, então, para o lado oposto e ainda sentindo-se banhada pelo sol, apresentava-se a ela - imponente - a Pampulha. E era de lá que vinha a brisa fresca, que balançava seus cabelos e aliviava o calor. Dali, podia-se ver a Igrejinha, a lagoa e o PIC. Se ficava na ponta dos pés, era possível ainda distinguir o campus da UFMG - rotineiro a alguns dias. Seriam mesmo dias? Ela já nem mais sabia: lhe era impossível, naquele momento, compreender o tempo.

Logo após a Universidade, estava o Dona Clara, com sua rua Estoril, seu Supermercado BH e a casa de Lucilhas, Guilhermes e Joãos. E como não dizer do Mineirão! Palco de tantos clássicos inesquecíveis, de tantas emoções incomparáveis e de muitas vitórias alvinegras. Seu coração acelerava quando fechava os olhos e era no domingo em que pensava. Sentia a emoção daqueles momentos, em que, de pé se curvava, se esticava, gritava, sofria e comemorava pelos jogos de seu Atlético.

Finalmente, logo atrás dela, vendo aquele espetáculo de cores, sabores e visões, estavam seus conterrâneos. Uma população mineira. O sotaque, o jeitinho cheinho de carinho e diminutivos tão peculiares a essa terra.

O sol parecia ser o mesmo, mas os mercados eram outros e a Pampulha carregava, aqui, outro nome e outras belezas. O Mineirão, um pouco menor, não era "Mineirão" e o clássico, CRB x CSA, alegrava uma outra torcida. O queijo, agora só o coalho e o manteiga. E o uai, um oxi deitado e cantado.

Era bom conhecer novos cantos, novos lugares, novas paisagens e costumes. Reconhecer a importância de cada um deles e enxergar-se descobrindo essa saudade, ao mesmo tempo arrebatadora e esperançosa. Mas seu coração, ah... seu coração era mineiro. E os seus pés também. E por conta disso, não lhe restava a menor dúvida: logo, ela voltaria.

4 comentários:

Nader disse...

É bom descobrir novos horizontes, e achar bonito a beleza dessas diferentes culturas que "aparecem" em nosso caminho. Parabéns pelo texto! Com certeza sua raiz de mineira nunca irá se extinguir, porém aproveite e continue fazendo aquilo que sabe fazer muito bem, e que o tempo não volta atrás..SERVIÇO! Assim Deus irá ajudar nas confirmações.
Amar e conhecer a Ele ajudará a enfrentar os desafios que vierem, e claro trará mais alegria para seus dias

Mãe orgulhosa disse...

Minha querida, esse horizontes não são mais os mesmos sem a sua presença. Porém, Maceió também merece a sua luz!

Mr Bean disse...

Seu lugar pode ser aqui, mas seu tamanho, tenho certeza, é do mundo.

Karen disse...

Oi Luiza, cheguei aqui através do blog da Elga.
Ah vocês, minieras..adoror vocês, tão belas, tão verdadeiras e escrevem tnao bem!
é bom voltar pra casa de vez em quando.
bjs

*vou ler aos pouquinhos!