As crianças aqui brincam de chimbra. Passam o dia com chinelo de dedo e bermudinha, enquanto correm pelas ruas da Jaqueira. Seus joelhos guardam as marcas de cada brincadeira, os lembram de cada tombo e de cada dor. "Gostosa essa dor da infância". As bicicletas não param nem por um minuto. Aquele par de rodas é guiado, a cada volta, por uma criança diferente: apesar de levadas, aqui elas sabem dividir.
As brincadeiras se misturam aos sons vindos do bar - de uma gente que não tem trabalho fixo. Aos cheiros dos cachorros soltos na rua. E ao perfume das mães cansadas pelo serviço de casa.
Algumas já sabem cozinhar e varrer o chão. Outras não fazem mais que brincar. Poucas estudam. São crianças, apenas. E, às vezes, nos esquecemos disso. Perdemos a paciência quando o choro é estridente e, seguindo nossa limitada compreensão, mimado. Brigamos quando são desobedientes e nos irritamos quando são elas, na verdade, as irritadas.
Meus Deus, quem as ensinará a ter amor? Quem lhes dirá ser, o seu futuro, maior e melhor e mais digno do que jamais se imaginou ser? Que a terra o faça, se permanecerem negligentes os seres humanos, e nunca as abandone. São crianças, apenas.